Warren Buffett e o Brasil


Por: roberto Nemr


Warren Buffett foi o maior investidor de todos os tempos, e ao mesmo tempo, o mais simples.

A metodologia do sábio de Omaha não é difícil de entender, mas complicada de praticar. O que ele diz, basicamente, é para tratarmos o investimento como se fossemos o dono do ativo. O proprietário de um negócio, quando o organiza, não pensa em desmontá-lo na semana seguinte. O investidor de longo prazo, em um título de propriedade da empresa (mais conhecido por ação), devia pensar da mesma maneira.

As três características mais importantes de um investidor do mercado acionário.

Em primeiro lugar, é necessário entender o negócio. Não invista naquilo em que você não entenda a lógica, nem em coisas em que você não gostaria de ser o dono. Pode ser que você perca uma oportunidade, mas vai ser mais difícil entrar numa fria.

Em segundo lugar, é importante não pagar um preço absurdo pelo negócio. Você não pagaria R$ 20 mil / m² em um bairro onde a média das vendas é realizada a R$ 10 mil / m². Da mesma forma, você não pagaria por uma fábrica de aço, o preço equivalente ao valor necessário para a construção de 3 fábricas iguais.

Ninguém sabe o futuro com exatidão. Então é preciso uma margem de segurança em relação ao presente. Não compre um negócio que não gere caixa, que não proporcione uma renda razoável em relação ao preço pago e que não reflita os ativos líquidos da empresa. Enfim, invista em algo que não dependa excessivamente de um crescimento fenomenal de lucros no futuro para se justificar.

Em terceiro lugar, e mais importante, tenha paciência. O dia a dia do mercado reflete “n” fatores, mas o resultado da empresa é função de ser um bom negócio, bem gerido e longevo. Muitas vezes, a atitude ideal, depois de se efetuar o investimento, seria a de tirar umas longas férias e só ver o resultado do investimento quando voltasse, sem as euforias e depressões do dia a dia. Mais fácil é dito do que praticado.

Zen-budismo

A paciência é a arte mais difícil de praticar, pois, de acordo com estudos neurológicos, a aversão a perdas é duas vezes maior que o prazer do ganho. Dificilmente um investidor resiste às altas e baixas do mercado, sem se preocupar com a preservação de seu capital. Afinal, a poupança é duramente conquistada. Em países com histórico de volatilidade maior, como o Brasil, isto é ainda mais difícil.

Porém, o efeito bola de neve é sempre válido para empresas que estão em bons mercados, tem boa administração e foram adquiridas a um preço razoável. É contra intuitivo, mas o investidor zen aproveita as baixas de mercado, como o comprador em fim de feira.  É bem melhor comprar nas liquidações. Quando todos estão entusiasmados, normalmente paga-se um preço mais elevado. Porém, a psicologia humana prefere acertar com a manada a errar sozinho.

Alavancagem

Invista sempre com capital próprio. Não se alavanque para entrar no mercado acionário, pois se a tendência for de baixa você é obrigado a vender. No Brasil, o custo do dinheiro é alto, mas nos Estados Unidos, onde ele é baixo, é comum que os investidores utilizem o capital de terceiros para investir no mercado de ações. Sem colocar um centavo, é possível ganhar dinheiro. Este procedimento acaba por exagerar as tendências de mercado, tanto para cima quanto para baixo. Por outro lado, quando o capital é próprio, pensa-se duas vezes tanto para comprar quanto para vender.


Capturar


Investimento e Trading

Apesar de óbvia, é bom ressaltar a diferença. Trading é uma atividade diária, que se aproveita da oscilação brusca e frequente de preços, com o objetivo de se obter lucro de curto prazo. Investimento é a manutenção de reservas de longo prazo, com o objetivo de se obter benefícios do crescimento do tamanho e dos lucros da empresa. É como se colocar nos pés do capitalista, acreditar no negócio e colher os frutos.Investimento e Trading

Imaginando que o passo inicial de qualquer negócio é a construção, a decisão mais importante é onde entrar, quando entrar e qual quantidade comprar. Como o cérebro humano é limitado, Buffett recomenda uma concentração do portfólio. É melhor operar com cinco a dez empresas que se conheça bem do que com 30 sobre as quais se tem uma vaga ideia. Para o corretor de valores, o investidor que compra – e lá fica por anos – não é um bom negócio, mas para o investidor costuma ser.

Sorte também faz parte do negócio

Warren Buffet costuma dizer que teve sorte em nascer no lugar certo e na época certa. Os Estados Unidos dos anos 50 até hoje foi um grande lugar para o investidor em ações, pois o crescimento foi forte, consolidaram-se grandes corporações em escala mundial e as taxas de juros, com algumas interrupções, tiveram uma tendência de queda. Hoje, aproximadamente 50% dos recursos dos americanos estão alocados em ações, 30% em títulos de dívida e 20% em caixa.

Os millennials (geração nascida a partir dos anos 80) talvez não tenham tanta sorte, pois o crescimento é menor, as taxas de juros não tem como cair mais, tanto o mercado de bonds quanto o de ações não está barato (ou seja, está difícil achar empresas que ofereçam margem de segurança para o investidor, mas não impossível) e os componentes especulativo e passivo passaram a dominar.

E o Brasil?

O Brasil está longe de praticar juros reais negativos. Pelo contrário, hoje temos, pelo menos entre os países relevantes, a maior taxa de juros real do planeta. Mas nossa inflação também está desaparecendo, ajudada não apenas pelos ventos mundiais, mas também pela maior crise de nossa história, que gerou uma incrível capacidade ociosa na indústria. O Banco Central vai se render à evidência e baixar os juros.

Também assistiremos a uma migração de investidores para ativos reais, e talvez com reformas e bons governos, presenciemos a volta de um crescimento mais robusto, que leve ao crescimento dos lucros e ao fortalecimento das empresas brasileiras. Neste sentido, o investidor tem uma oportunidade de talvez usufruir de um ciclo de negócios mais favorável para ações do que para a renda fixa.

Basta seguir os princípios de Buffett e esperar para colher os frutos.  Lembrem-se: Procurem empresas boas, cujo negócio não vá morrer em 20 anos, pouco alavancadas, boa gestão, que tenham uma geração de caixa segura e cujo preço de mercado reflita o custo real dos ativos existentes; e não fantasias futuristas que já custaram muito caro a investidores imprudentes.

Os dias de ganho fácil com renda fixa talvez estejam contados. Como a alocação média em ações não passa de 10% no Brasil, e o universo de investidores não ultrapassa 500 mil pessoas, há muito espaço para aumento no horizonte. Quando todo mundo estiver entusiasmado, o mercado provavelmente vai estar caro.


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