Por Érica Polo — Jornalista do Valor Econômico
O contexto geopolítico deverá impactar as entregas de adubos no
mercado brasileiro em 2022, e já há quem faça projeções. Um trabalho
da consultoria MacroSector, especializada em agronegócios, indica
que as vendas internas neste ano poderão cair 8% em relação a 2021,
para 42,1 milhões de toneladas.
No ano passado, os agricultores brasileiros receberam quase 46
milhões de toneladas, segundo a Anda, que representa a indústria.
Com uma sequência de altas desde meados da década passada, as
entregas atingiram nível recorde em 2021.
Para Fabio Silveira, sócio diretor da MacroSector, apesar de questões
indefinidas – como a guerra na Ucrânia e os desdobramentos da
pandemia -, há fatores já postos na mesa e que distorcem a formação
de preços. “Não é um mercado em condições de normalidade”,
resume.
“O preço é um catalisador da eficiência ou ineficiência de um mercado,
que deverá continuar ineficiente neste ano”, continua. A MacroSector
estima que as importações brasileiras de adubos serão de 32,9 milhões
de toneladas em 2022 – recuo de 16% em comparação com o volume
calculado pela Anda para 2021.
Para a consultoria, as importações serão menores, seja por
dificuldades de logística marítima ou preço. Diante do atual patamar de
cotações, diz Silveira, produtores já planejam reduzir compras mesmo
com a valorização das commodities. “Há quem fale em comprar 5%
menos, há quem diga 20% menos”. Muitos produtores deverão levar
em conta, em 2022, o banco de nutrientes que fica depositado no solo,
sobretudo quem plantou a safrinha de milho.
Mesmo que as commodities também sigam trajetória de alta, o adubo
“disparou”, reforça Silveira. Uma forma de mensurar a tendência é a
relação de troca. Em janeiro de 2021, um produtor de algodão
precisava de 47 arrobas para comprar 1 tonelada de fertilizante, e o de
arroz empregava 19 sacas. Em dezembro, porém, o adubo passou a
custar 78 arrobas de algodão e 66 sacas de arroz. Os dados da
MacroSector consideram os fertilizantes usados em cada lavoura e
preços em dólar.
Os preços de fertilizantes vêm em trajetória de forte alta desde o ano
passado devido a um desajuste global entre oferta e demanda. O
contexto da guerra que envolve Rússia e Belarus, importantes
fornecedores, piorou o cenário, alavancando as cotações.
A Rússia é um dos maiores exportadores dos principais nutrientes –
nitrogênio, fosfatado e potássio. No potássio, Rússia e Belarus ofertam
cerca de 24 milhões de toneladas para o mundo, atrás só do Canadá.
Novos desdobramentos da guerra à parte, Silveira não acredita que o
fluxo logístico se normalizará neste ano. Ademais, comenta, diante do
contexto geopolítico e econômico, China, Rússia e Índia devem segurar”
fertilizantes, já que têm população numerosa.
A China, assim como a Rússia, é um exportador importante de adubos,
mas concentrado em fosfatados – nutriente do qual o Brasil é menos
dependente se comparado a potássio e ureia (nitrogenado).
Já a Índia é um importador de fertilizantes, assim como o Brasil. Mas,
caso o país tenha sobra de potássio por ter garantido compras, por
exemplo, dificilmente “passará produto para a frente”, segundo Silveira.
“O país está do lado dos fornecedores e tem mais força política que o
Brasil nesses mercados”, finaliza.