Entrevista de Fabio Silveira para o Portal Varejo Em Dia.
A economia brasileira começou 2018 em recuperação, mas sofreu uma derrapada a partir do segundo trimestre.
As incertezas em relação ao futuro do país pioraram quando o Banco Central (BC) sinalizou que os juros iriam cair e, dias depois, decidiu manter a Selic em 6,5% ao ano.
A decisão da máxima autoridade monetária do país assustou os empresários, especialmente os mais graúdos, gerando um desconforto maior no mercado.
E aí veio a greve dos caminhoneiros, que parou o país, e uma desvalorização mais acentuada do real em relação ao dólar.
Mais: este é um ano de eleições para presidente da República, e há uma grande incerteza em relação à capacidade dos candidatos de colocar o país nos trilhos.
Para Fabio Silveira, sócio-diretor da MacroSector Consultores, os fatos citados acima somados a uma taxa de câmbio nos patamares atuais, de R$ 3,70 a R$ 3,80 para cada dólar, frearam a economia.
Esse cenário conturbado, diz ele, deve perdurar no segundo semestre deste ano e em 2019. O varejo deve fechar 2018 com crescimento de 2,3% a 2,7%, no máximo.
“A curva é de recuperação, mas moderada. O crédito tem crescido, assim como o rendimento real do trabalhador, mas nada para deixar todo mundo eufórico.”
Entre mortes e feridos, diz ele, os feridos estão vivos, o que não deixa de ser um ponto positivo para o país.
Veja abaixo a reflexão do economista Fábio Silveira sobre o momento atual.
Não existe uma convergência grande em relação aos candidatos à presidência da República.
Há uma desconfiança política acentuada quanto à capacidade dos atuais candidatos de levar a bom termo a superação da crise política pela qual passa o país.
Isso criou um ambiente adverso do ponto de vista econômico e político.
O eleitorado não se sente representado pelos candidatos que estão postos à mesa.
Mas o Brasil é isso, e sempre foi uma economia muito influenciada por eventos de curto prazo, muito voláteis em certos aspectos. Esta aí a taxa de câmbio para não me deixar mentir.
Acho que, como no passado, nós vamos superar esse horizonte desfavorável, mesmo que ainda permaneçam várias contradições e indefinições.
Quantos aos preços dos combustíveis, fretes, transportes de carga, é logico que isso terá um custo.
E o custo dessa nova lambança brasileira será um crescimento econômico menor do que o previsto há dois meses.
Na avaliação de nossa equipe, o PIB deve crescer este ano 1,8%, e não mais 2,8% como o estimado no início do ano.
Mas a taxa de crescimento do PIB já vinha perdendo um pouco de fôlego com o passar dos meses.
Mas aí ocorrerem esses eventos, a fala complicada da direção do BC e a greve dos caminhoneiros.
Havia também dúvida se os Estados Unidos iriam ganhar fôlego. E estão ganhando.
Os juros tendem a subir nos EUA, pressionando a taxa de câmbio aqui no Brasil para patamares próximos de R$ 3,8, R$ 3,9 e R$ 4.
A expectativa para o comércio é menos positiva do que a feita em janeiro. Deve crescer entre 2,3% e 2,7%. No começo do ano, a previsão era de alta próxima de 3%.
É um crescimento fraco, modesto. 2019 pode ser um ano um pouco melhor, com o comércio crescendo 2,5%.
Não é uma melhora substancial, mas é um horizonte de algum avanço, com evolução um pouco lenta do crédito.
É o que é possível esperar neste momento para a economia com tantos obstáculos a serem superados, como a redução do desequilíbrio fiscal, o déficit primário elevado.
Teremos uma modesta elevação dos juros, que deve chegar a 8% nos próximos meses.
A taxa de juro básica vai subir e também as taxas para os consumidores.
Não vai chegar a patamares de 2017, de 13% a 14% ao ano, mas aquele horizonte de terminar 2018 com taxa de juros de 6%, 6,25% e 6,5% ficou para trás.
Vamos operar em dois anos com juros de 8% a 8,5% ao ano.
Ainda é um patamar baixo para o padrão brasileiro, mas é uma taxa ainda cara, pesada, quando se compara com a de outros mercados internacionais de crédito.
Nos Estados Unidos, a taxa está próxima de 1% ao ano. Na Europa, de 2%. Na Rússia, de 5%, como base de comparação.