Tensão pré-eleitoral e dólar caro travam os negócios


Entrevista de Fabio Silveira para o Portal Varejo em Dia


Setembro, tradicionalmente, costuma marcar o início das negociações entre representantes da indústria e do varejo com foco nas vendas para o final do ano.
O lojista programa os pedidos e, a indústria, a produção, tudo para aproveitar o melhor período de vendas do ano, o mês de dezembro.
E antes mesmo do Natal, no final de novembro, acontece a Black Friday, evento que tem tido peso cada vez maior no faturamento anual do comércio.
Neste ambiente de desemprego elevado, falta de confiança nos negócios e na economia e tensão pré-eleitoral, setembro de 2018 está sendo um mês atípico.
“A polarização absurda na política em torno das eleições presidenciais parou o comércio e, como consequência, a indústria”, diz Ronald Masijah, presidente do Sindivestuário, sindicato que reúne as confecções paulistas.
Tanto os lojistas como as confecções, diz ele, estão aguardando o resultado das eleições para planejar as vendas para o final do ano.
De janeiro a julho, as vendas do varejo de vestuário caíram 4,4% e, a produção, 3,1%.
Para Masijah, não há nada que indique uma inversão desse cenário. A estimativa é que o faturamento das confecções caia 10% neste ano na comparação com 2017.
“Os investimentos no nosso setor estão parados. Se o novo governo não estiver comprometido com as reformas que o país precisa e a economia não voltar a crescer, mais confecções vão fechar as portas”, diz.
DÓLAR CARO
No setor de eletroeletrônico, mais um motivo tem contribuído para azedar a relação entre as indústrias e os lojistas: a alta do dólar.
Esse setor trabalha com componentes importados. Se o real se desvaloriza em relação ao dólar, custa mais caro produzir televisores, geladeiras, fogões.
“Não há falta de produtos nas nossas lojas, mas por várias vezes as negociações com os fornecedores foram interrompidas por conta de preços”, afirma José Domingos Alves, supervisor geral da Lojas Cem.
O cenário econômico e político no Brasil, de acordo com ele, nunca esteve tão preocupante. A Lojas Cem, com receita anual de R$ 5,3 bilhões, porém, decidiu manter os investimentos.
Com 260 lojas, a rede deve fechar 2018 com 11 pontos-de- venda a mais do que no ano passado. A previsão é abrir mais 10 a 12 lojas em 2019.
O foco da rede, que pertence à família Dalla Vecchia, é crescer nos Estados em que já atua: São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro.
O empobrecimento da população brasileira por conta crise afetou a rede. A inadimplência (atrasos no pagamento das prestações acima de 60 dias) deu um salto de 20% no ultimo ano.
A venda a prazo, bancada pela própria empresa, representa cerca de 70% do faturamento da empresa.
Esse é um problema que só se resolve, de acordo com Alves, com a volta do crescimento da economia e a redução do desemprego.
Não tem jeito, o varejo deve esperar por um Natal nada efusivo, de acordo com Fabio Silveira, sócio-diretor da MacroSector Consultores.
“Os preços dos produtos com componentes importados estarão mais caros. O que pode compensar a alta de preços é o crédito, que ainda cresce, e a pequena melhora no emprego e na renda”, diz ele.
A equipe de economistas da MacroSector prevê crescimento de 2,8% a 3% para o varejo neste ano em relação ao ano passado. Números que podem ser revistos dependendo do resultado das eleições.