Por Fabio Silveira, MacroSector Consultores.
Em 2021, apesar da perda de dinamismo da indústria brasileira neste segundo semestre (ver abaixo, o fraco desempenho do setor em agosto), prevê-se que sua produção aumentará 5,8% sobre o ano passado. Trata-se do primeiro resultado positivo do setor após dois anos de declínio. Em 2020, o nível de produção industrial foi o mais baixo desde 2003, recuando 4,5% frente à 2019, devido à parada da economia nacional e mundial provocada pela pandemia de covid-19.
Neste ano, estima-se que a indústria de transformação terá crescimento de 6%; e a extrativa mineral, de 2,2%. O melhor desempenho da primeira será sustentado pela:
a) forte expansão do segmento de bens de capital (+ 27%), em virtude da extraordinária demanda interna por máquinas agrícolas;
b) avanço do segmento de bens intermediários (+ 4,5%), refletindo a recuperação da economia chinesa e asiática em geral; e
c) melhora do segmento de bens de consumo (+ 2,5%), por causa, principalmente, do bom ritmo de expansão do volume de crédito às famílias, mesmo ocorrendo sensível majoração dos juros básicos desde março último.
O avanço da extrativa mineral, por sua vez, fundamenta-se igualmente na aceleração econômica da China, que é grande compradora de minério de ferro do Brasil.
Produção industrial brasileira recuou 0,8% em Agosto
Cabe acrescentar que o desempenho da indústria brasileira, como um todo, está sendo favorecido pela concessão crescente de crédito à pessoa jurídica, como demonstra o gráfico abaixo. Em agosto de 2021, o volume desse crédito atingiu o patamar de R$ 1,17 trilhão, ou seja, 13,7% a mais do que no mesmo mês de 2020, oferecendo maior suporte à produção do setor.
Crédito para pessoa jurídica (R$ milhões)
No primeiro trimestre de 2022, todavia, mesmo com a redução do isolamento social, o mercado interno, para onde se destinam cerca de 85% da produção industrial brasileira, a taxa de crescimento da indústria nacional será relativamente modesta, em função da vigência de níveis elevados não apenas de desemprego e endividamento das famílias, mas também de juros. No começo do próximo ano, a taxa básica Selic deverá girar em torno de 9% a.a.
Em relação às exportações industriais, estas mostram maior fôlego, pois a alta do dólar em passado recente aumentou a competitividade não apenas de produtos de menor valor agregado (como alimentos), mas também, em razoável medida, de bens de maior valor agregado (de automóveis à máquinas e equipamentos). Porém, o impacto final dessas vendas externas na dinâmica da indústria nacional será modesto, já que representam somente 15% do total da produção do setor.
Produção industrial brasileira: previsão de crescimento de 5,8% em 2021