Os novos preços passam a valer a partir de sábado (21/10)
Por Alexa Meirelles, do UOL, em São Paulo
A Petrobras anunciou que vai reduzir o preço da gasolina em 4,1% nas refinarias e aumentar o diesel em 6,6% a partir deste sábado (21). A decisão ocorre em meio a um salto nos preços internacionais desde o início da guerra entre Israel e Hamas, no início do mês. Entenda as justificativas apresentadas pela estatal e o que esperar para os preços dos combustíveis.
Por que a gasolina caiu e o diesel subiu?
A petroleira divulgou em comunicado que reduzirá em R$ 0,12 o litro da gasolina; já o diesel terá um aumento de R$ 0,25. Ambos os preços são para as distribuidoras. Jean Paul Prates, presidente da Petrobras, afirmou que a estratégia comercial adotada tem se mostrado bem-sucedida no sentido de “tornar a empresa competitiva no mercado e ao mesmo tempo evitar o repasse de volatilidade para o consumidor”
Petrobras citou movimentos distintos no mercado de diesel e de gasolina. “Para a gasolina, o fim do período sazonal de maior demanda global significa maior disponibilidade e desvalorização do produto frente ao petróleo. Por outro lado, para o diesel, observa-se uma demanda global sustentada, com expectativa de alta sazonal, resultando em valorização do produto frente ao petróleo”, afirmou, em comunicado.
Apesar do aumento do diesel, a Petrobras afirma que a variação no ano acumula redução. No caso da gasolina, a redução é de R$ 0,27 por litro no ano, e no diesel é de R$ 0,44 por litro no ano. “Mesmo com o valor do brent mais alto que no ano passado, os preços dos nossos produtos acumulam quedas, muito diferente do que aconteceu ao longo de 2022”, destacou Prates.
Desde o início do ano, a Petrobras não pratica mais o PPI (preço de paridade internacional). Com isso, existe uma defasagem entre os valores praticados no mercado doméstico em relação aos preços do exterior. Os dados mais recentes da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis) mostram que a defasagem média de preço maior atualmente é no diesel, de -12%. Para a gasolina, é de -5%.
Com redução da gasolina, aumentou a defasagem frente a paridade de preço de importação. Amance Boutin, analista da Argus, empresa especializada na produção de relatórios e análises de preços, avalia que não existia espaço para essa redução. Já a alta no diesel, segundo ele, conversa melhor com a tendência do atual cenário internacional. Étore Sanchez, economista da Ativa Investimentos, calcula que o corte de 12 centavos na gasolina amplia a defasagem para próximo de 30 centavos, ao passo que a alta do diesel ainda deixa resíduo altista de cerca de 35 centavos. “Em outras palavras, o preço da gasolina precisaria subir R$0,30 e o diesel R$0,35, para se equiparar aos níveis internacionais”, diz.
“A implementação da estratégia comercial, em substituição à política de preços anterior, incorporou parâmetros que refletem as melhores condições de refino e logística da Petrobras na sua precificação. Em um primeiro momento, isso permitiu que a empresa reduzisse seus preços de gasolina e diesel e, nas últimas semanas, mitigasse os efeitos da volatilidade e da alta abrupta dos preços externos, propiciando períodos de estabilidade de preços aos seus clientes.” – Petrobras, em comunicado
A gasolina vai ter que subir em algum momento?
Ainda é cedo para saber o quão mais caros os combustíveis podem ficar em função do petróleo. Especialistas avaliam que tudo depende da escalada do conflito no Oriente Médio — principalmente se houver o envolvimento de algum país que seja um grande produtor da commodity, como é o caso do Irã.
Se as altas do petróleo perdurarem, é muito provável que os preços reflitam nos combustíveis no médio prazo, diz Walter de Vitto, sócio da Tendências Consultoria. De qualquer forma, tudo ainda depende dos países envolvidos.
O barril tipo Brent (usado como referência) é cotado nesta sexta-feira (20) acima de US$ 93. O mercado futuro já trabalha com a ideia de que o preço do petróleo vai subir ainda mais. Fabio Silveira, sócio-diretor da MacroSector Consultores, avalia que o que está impedindo uma alta ainda mais forte é o período de desaceleração econômica pelo qual o mundo todo passa hoje.
“O principal risco é via participação do conflito de outros países árabes. Isso pode evoluir para um quadro de impactos mais severos. Olhando para o mercado doméstico, é pouco provável que a Petrobras não reajuste preços num cenário de alta mais forte. Ainda que ela não acompanhe os movimentos de perto, tudo leva a crer, inclusive com o último reajuste, que houve alguma referência nos preços internacionais. Não estão seguindo o PPI, mas não é uma política totalmente descolada.” – Walter de Vitto, sócio da Tendências Consultoria
Petrobras consegue absorver os preços até quando
O preço médio da gasolina comum hoje no Brasil é R$ 5,76 e do diesel é R$ 6,05, segundo o último levantamento da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). Vitor Sousa, analista da Genial Investimentos, acredita que apesar da defasagem há espaço para segurar um aumento agora, se for necessário.
“À medida que o petróleo continue subindo, mesmo que ele suba até US$ 100, é como se ainda houvesse espaço para a Petrobras absorver essa volatilidade. Pode ser uma dor de cabeça se [a guerra] escalar e [o preço] subir para um cenário de US$ 110, US$ 120. Dá um frio na barriga se ir até US$ 100, mas a vida segue. A Petrobras absorve.” – Vitor Sousa, analista da Genial Investimentos
Mas e se o petróleo subir mais?
“O preço do petróleo já está afetado, piorar mais a guerra é a tempestade perfeita”, disse Prates nesta semana. Ele avaliou, no entanto que, no momento, não há indícios de que a guerra entre Israel e o grupo Hamas irá se alastrar para um país produtor de petróleo.
Para analistas, o preço praticado pela estatal não é sustentável no longo prazo. Silveira diz que o movimento de queda no preço da gasolina neste momento foi possível visto que a defasagem era menor. Ele também acredita que a decisão mira a inflação de alguma forma, já que o ano está terminando e a ideia é que o governo consiga ficar abaixo do teto da meta. Ele avalia que isso pode comprometer cortes na taxa de juros em 2024.
Preços do barril de petróleo se mantêm elevados nos contratos futuros. Ou seja, o mercado segue apostando na alta da commodity e existe uma expectativa de ascensão para os próximos meses. Para Silveira, a alta dos preços no Brasil vai ser inevitável num cenário de agravamento do cenário externo para que a rentabilidade dos produtos não seja comprometida.
“Isso vai trazer problemas mais adiante. Você remunerando a gasolina e óleo diesel na refinaria aquém do [valor] vigente no mercado internacional, a Petrobras vai ter um desconto nos preços das ações. Se a gente tiver uma piora nas condições políticas no Oriente Médio, para mim, não há dúvida de que gasolina e diesel teriam aumento de pelo menos 10%, 15% ou 20%. Se estender essa política [de preços] por muito tempo, vai comprometer a rentabilidade [da companhia] de 2024. Então não há outra maneira, até porque o mercado internacional está apontando para uma alta no mercado futuro dos combustíveis.‘ – Fabio Silveira, sócio-diretor da MacroSector Consultores
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