Por Flavia Lima – Folha de São Paulo (11/01/2018)
A inflação das famílias mais pobres atingiu o nível mais baixo desde a implementação do Plano Real, levada pela queda histórica dos alimentos.
Em 2017, o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) subiu 2,07%, segundo divulgou o IBGE na quarta (10).
Desde 1994, o indicador que mede a inflação das famílias com renda de até cinco salários mínimos, ficou abaixo de 3% em apenas outras duas ocasiões: em 1998 (+2,49) e em 2006 (+2,81%).
Na comparação com o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a inflação das famílias com renda de até 40 salários mínimos, o INPC também levou a melhor. Em 2017, o IPCA avançou 2,95%.
A deflação de 1,9% dos alimentos (a primeira da série, que começa em 1979) teve um papel fundamental na desaceleração dos indicadores.
Na cesta de consumo dos mais pobres, no entanto, a importância é ainda maior. Nesse grupo, o peso dos alimentos chega a 30%, em comparação a 24% no IPCA.
No geral, analistas avaliam que cenário igual ao de 2017 dificilmente se repetirá em razão do clima menos favorável e de projeções de uma leve queda na safra agrícola.
Há, porém, espécie de consenso de que a inflação deve seguir moderada em 2018 com alta ao redor de 4%.
“Não teremos outro ano bom como 2017, mas isso não significa que 2018 será ruim”, diz o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.
Depois do desempenho fora da curva em 2017, diz Vale, o grupo alimentação deve voltar a ser o grande elemento de pressão sobre os preços em 2018, com alta de até 5%.
Além disso, diz Fábio Silveira, sócio da consultoria MacroSector, também devem pressionar os preços ao longo deste ano a expectativa de elevação da massa real salários e um dólar mais forte, influenciado pela alta dos juros americanos.
Mesmo neste cenário, diz Vale, da MB, é possível prever inflação abaixo da meta de 4,5% em 2018, ajudada, entre outros fatores, pela capacidade de produção das indústrias ainda ociosa.
O que talvez seja o único contraponto de um INPC mais baixo e seus efeitos positivos ao orçamento das famílias mais pobres é que o indicador também é usado como base para reajustar salário mínimo e aposentadorias.
O movimento tira mesmo um pedaço da renda futura dos trabalhadores, diz Silveira, mas a perda pode ser mais do que compensada pela melhora dos salários e do emprego ao longo de 2018.
ELEIÇÕES
Dois anos consecutivos de inflação sob controle ajudam, mas não serão suficientes para afetar o ânimo do eleitor a ponto de favorecer um candidato governista, dizem economistas.
Silveira avalia que o cenário econômico deve contribuir para uma relativa melhora da imagem do candidato do governo nas eleições, qualquer que seja ele. Mas isto será insuficiente para garantir sua vitória.
“O atual governo está demasiadamente desgastado. O candidato oficial terá que apresentar propostas e assumir compromissos muito mais sedutores e convincentes para ganhar o pleito”, diz.
Na avaliação de Vale, da MB, regiões mais pobres tenderão a colocar a economia em primeiro lugar, o que justifica a dianteira de Lula da Silva nestes Estados.
“Mas as escolhas dependerão do poder de convencimento do candidato de que será limpo, ajustará a economia e manterá o social. Trabalho árduo para os candidatos hoje presentes”, afirma.