Indicadores da economia desabam com o coronavírus

Entrevista de Fabio Silveira para Fátima Fernandes em Varejo em Dia


Não se tem notícia na história recente do país de mudanças tão drásticas e em tão pouco tempo de projeções macroeconômicas.
Há cerca de um mês, as estimativas para a economia brasileira em 2020 eram mais ou menos essas, de acordo com a equipe de economistas da MacroSector Consultores.
PIB (Produto Interno Bruto) crescendo 1,5%, inflação próxima de 4,5% e taxa básica de juros, a Selic, de 2,75% ao mês.
As perspectivas eram de o varejo crescer perto de 2%, e indústria não crescer ou registrar queda de 1% sobre 2019.
A massa salarial caminhava para uma alta de aproximadamente 1% e a taxa de desemprego para permanecer entre 11% e 12%.
Na pior das hipóteses, o déficit primário atingiria algo perto R$ 120 bilhões.
Com a pandemia do novo coronavírus, que resultou no isolamento social e no fechamento de lojas, bares, restaurantes, shoppings e cinemas, os números são outros.
O PIB deve cair perto de 5%. A inflação e a taxa Selic devem ser menores, de 4% e 2,25% ao mês, respectivamente.
O varejo deve registrar queda de 4% e a indústria, de 7%.
O déficit primário deve atingir R$ 420 bilhões, algo impensável especialmente para o ministro da Economia, Paulo Guedes, que focou a sua política na redução de gastos públicos.
Com as demissões que já começaram a mostrar as caras, a massa salarial deve cair 2,5% e a taxa de desemprego pode bater em 18%.
A inflação cai mais do que o previsto por conta da redução dos preços do petróleo, e como consequência, das commodities agrícolas.
O preço do petróleo entra na formação de preços de vários produtos comercializados no país.
“O preço internacional do petróleo vai cair muito. Além da guerra comercial entre a Rússia e a Arábia Saudita, enfrentamos há 45 dias o congelamento da economia global”, afirma Fabio Silveira, sócio-diretor da MacroSector.
As atividades de diversos setores da economia foram interrompidas com efeito em cadeias produtivas em todo o mundo.
“As pessoas e as empresas estão tentando saber como sair desta enrascada.”
A taxa Selic deve cair porque o governo pretende reduzir o custo de financiamento para as pessoas e as empresas, especialmente para pequenas e médias.
Os governos federal e estadual também devem injetar recursos (perto de R$ 150 bilhões) na economia para evitar uma quebradeira generalizada de empresas.
Os Estados Unidos devem injetar US$ 2 trilhões na economia, uma tentativa arrojada, de acordo com Silveira, e nunca vista na história, para reativar a economia.
“O mundo depende da reativação da economia chinesa e norte-americana. E o grande enigma hoje é o que ocorrer na China, em Wuhan. Espera-se que não tenha nova onda de contágio.”
Com salários mais baixos e até famílias sem salário, varejo e indústria vão ter desempenho ruins em 2020.
Se a proliferação do novo coronavírus for controlada, com o surgimento de medicamentos e vacinas para tratar e evitar a doença, 2021 pode ser um ano um pouco melhor para o Brasil.
Em seu relatório divulgado neste mês, o FMI (Fundo Monetário Internacional) projeta um crescimento de 2,9% do PIB brasileiro no ano que vem.
Este número é até maior do que os 2,3% que previa para o Brasil em janeiro deste ano.
“A injeção de recursos para salvar as famílias e as empresas devem provocar um crescimento maior da economia em 2021.”
Se a projeção do FMI se confirmar e o Brasil crescer perto de 3% no ano que vem, ainda estará em ritmo abaixo de 2019.
Nunca em sua história, o Brasil enfrentou uma queda de PIB de 5% em um único ano, como se prevê para este ano.