EUA, Irã, gasolina abatem o varejo no Brasil. O que fazer? NRF deu dicas


Fátima Fernandes em Varejo em Dia


O conflito entre Estados Unidos e Irã, um dos maiores produtores de petróleo do mundo, vai ter reflexo no varejo brasileiro neste primeiro trimestre de 2020.
O preço médio da gasolina comum subiu quase 6% neste mês na comparação com igual período do ano passado, com impacto na inflação, prevista para 4,5% neste ano.
Se os preços sobem, sobra menos dinheiro para os gastos das famílias.
No final do ano passado, a MacroSector Consultores projetava um crescimento de 3% para o varejo neste trimestre. Acaba de reduzir o número para 2%.
“Se essa pressão inflacionária vai persistir, ainda não dá para saber. Tenho a impressão que não. Mas o fato é que a inflação projetada para este ano já está acima do centro da meta, de 4%”, afirma Fabio Silveira, sócio-diretor da MacroSector.
Se havia sinais de retomada do consumo com números mais expressivos para 2020, agora as projeções indicam que o lojista precisa ser prudente e criativo para tocar o negócio.
“Não adianta o varejista se enganar. Vai ter de continuar trabalhando com um cenário de crescimento lento de vendas no país neste ano”, afirma.
A Confederação Nacional do Comércio de Bens Serviços e Turismo (CNC) reduziu de 4,3% para 4% a projeção de aumento de vendas do varejo em 2019 e de 5,5% para 5,4% em 2020.
Com ou sem respingos de ações tomadas por potências lá fora, este será mais um ano de desafios para o varejo brasileiro.
Combinar as novas tecnologias que surgem para conhecer e encantar os clientes, considerando lojas físicas e on-line, parece ser o caminho para o sucesso de um negócio.
O colaborador tem um papel importante para elevar – ou não – o faturamento de uma loja.
NRF 2020
Na maior feira de varejo do mundo, a NRF (National Retail Federation) 2020, que aconteceu neste início do ano, em Nova York, Satya Nadella, CEO da Microsoft, deu um depoimento sobre o tema.
De acordo com ele, um funcionário bem treinado, valorizado e contente no seu ambiente de trabalho aumenta em 15%, em média, a chance de concretização de uma venda.
Em sua palestra, John Furner, CEO da rede Walmart também destacou a importância de uma companhia valorizar os funcionários, que se tornam verdadeiros promotores de uma marca.
A necessidade de o lojista conhecer e estar próximo do cliente foi mais uma vez destacada durante o evento.
Luq Niazi, diretor global da IBM, mostrou que, a partir de um estudo com mais de 20 mil consumidores, de 28 países, as marcas estão cada vez mais alinhadas com os valores das pessoas.
A personalização do atendimento e da relação entre vendedores e clientes também tem peso na hora de um consumidor optar por uma marca.
Pesquisa revela que 76% das compras dos norte-americanos começam em ambientes digitais e depois seguem para o mundo físico, como a modalidade de retirada em loja, por exemplo.
Abaixo um resumo das impressões de Marilia Passos, gerente de suporte a vendas da CREDZ, durante a NRF.
Analytics
O grande tema da NRF 2020 foi a utilização do analytics e inúmeras soluções de análise de dados foram apresentadas.
Dessa forma, o varejista pode entender como aumentar a produtividade do negócio, seja nos estoques, na loja ou no atendimento ao cliente.
É notório o poder transformador da Inteligência Artificial, acompanhada da Machine Learning, Deep Learning e Image Learning.
O futuro das máquinas já é uma realidade no mercado chinês e boa parte do mercado americano, com a atuação da Amazon Go, por exemplo.
Todas essas ferramentas devem ser utilizadas para ofertar ao cliente uma experiência única e enriquecedora.
Jornada e Experiência
Uma medida para aprimorar a experiência do cliente na loja física é lançar mão de soluções tecnológicas que dão total comodidade e autonomia para o consumidor.
O cliente entra na loja identificando-se através do QR Code do app, escolhe o produto, coloca na sacola, sai da loja e pronto.
O valor dos produtos é debitado no seu cartão e, em até dois minutos, o recibo é enviado ao seu smartphone sem nenhuma interferência de um funcionário no processo.
Isso tudo é possível devido à alta tecnologia e centenas de câmeras que acompanham milimetricamente cada movimento do cliente na loja.
Na luxuosa Neyman Marcus também é possível agendar a utilização dos provadores, ambientados ao gosto do cliente, escolher a música que deseja ouvir na loja e até mesmo pedir apoio de estilistas, pré-selecionando as roupas de seu perfil, elevando ao mais alto nível a experiência dentro da loja.
Automatização
Dentre as soluções apontadas, a automatização domina. Os insights abrangem todas as etapas e segmentos do negócio varejista, da estocagem ao pós-compra.
Robôs da empresa Fabric fazem o trânsito dos produtos até as estações de picking nos armazéns, drones fazem a atualização de inventários e planogramas, máquinas percorrem os corredores das lojas, verificando as gôndolas para reposição dos estoques e inventário, ou realizam a organização de estocagem, elevando a eficiência das operações logísticas.
 Loja física e/ou digital?
A escolha dos pontos de venda passará por uma decisão do consumidor.
A integração de canais dará ao cliente comodidade e liberdade para transitar entre eles como bem entender.
Comprar na loja e receber em casa. Comprar na internet, provar na loja e receber em casa. E comprar na internet e retirar na loja, por exemplo. Possibilidades que se tornarão ações comuns.
Tecnologia materializando novas ideias
Empresas como a Texel buscam minimizar o tempo gasto pelo cliente nos provadores das lojas de moda para evitar sua frustração ao comprar uma peça de vestuário do tamanho errado.
E como eles fazem isso?
Com o app body measurement, o consumidor, em sua casa, veste uma roupa de ginástica, que é escaneada por um app e faz as medições precisas do seu corpo.
A solução impacta não só na praticidade para o cliente, mas na redução de trocas para o varejista.
Outras soluções
Ainda no varejo de moda, tecnologias, como a image learning, permitem aos clientes tirar ou enviar a foto de uma roupa a um sistema, que procura na base de um varejo uma peça semelhante à desejada pelo consumidor. A ideia é da startup Syte.
Para a área de e-commerce, a Namogoo desenvolveu uma aplicação que evita o surgimento de anúncios de concorrentes, enquanto o consumidor navega nos sites das empresas.
A ideia é diminuir a fuga dos clientes no ambiente online.
Já a Natural Machines trabalha com a impressão de formas 3D feitas com comida.
O alimento passa por uma impressora 3D que deixa um purê de batata em formato de flor, por exemplo.
As máquinas têm sido muito vendidas para hospitais, pensando na experiência de quem vai consumir.
Estes são apenas alguns exemplos das dezenas de soluções inovadoras apresentadas pelas startups durante a feira.
A tecnologia que aparentemente era distante, fica cada vez mais próxima de nossa realidade, como varejistas ou consumidores, e vem acompanhada de requintes de simplicidade e genialidade por trás de cada ideia.