Cresce a disputa entre líderes em adubos

Norueguesa Yara sente mais os reflexos do cenário geopolítico global e perde espaço nas importações.

Érica Polo – Valor Econômico

A contração das entregas de adubos no mercado brasileiro em 2022, estimada em 10%, acirrou a disputa entre as indústrias fornecedoras. E, como era esperado entre agentes setoriais, a norueguesa Yara, uma das líderes do segmento, foi a que mais sentiu os efeitos negativos do cenário geopolítico global.

As três companhias que figuram no topo do ranking no Brasil importaram volumes menores de nutrientes usados em fórmulas de fertilizantes no ano passado. Segundo levantamento mais recente da consultoria StoneX, com base em dados de 2021, são elas a americana Mosaic, a norueguesa Yara e o grupo paranaense Fertipar.

A queda das importações da Yara foi de cerca de 30%, para pouco mais de 5 milhões de toneladas de nutrientes entre janeiro e dezembro de 2022. São compras sobretudo de nitrogenados, fosfatados e potássicos – NPK (ver infográfico).

Já a Mosaic Fertilizantes, braço local da Mosaic Company, importou 6% menos no ano passado, ou pouco menos de 8 milhões de toneladas. Em meio à concorrência entre as duas gigantes multinacionais está a Fertipar, que reduziu suas compras do mercado externo em cerca de 20% em 2022. Contudo, a companhia brasileira ultrapassou o volume das importações da Yara ao trazer perto de 4,5 milhões de toneladas.

Dependência externa

O cálculo foi elaborado a partir de um relatório do Sindicato da Indústria de Adubos e Corretivos Agrícolas do Estado de São Paulo (Siacesp) divulgado na segunda-feira. Vale lembrar que o Brasil importa 85% de sua demanda por fertilizantes. Desse modo, as informações não entregam a participação de mercado das empresas – há ainda a considerar estoques e produções locais.

Um importador informou, por exemplo, que a Fertipar entregou aos clientes 6,7 milhões de toneladas em 2022, somados estoques e compras internas. Procurada pelo Valor, a companhia não concedeu entrevista. Analistas reiteram, no entanto, que a importação dá uma pista importante dos movimentos no topo do segmento.

A Yara, durante muito tempo a líder no Brasil, acusou mais os reflexos da guerra na Ucrânia. É que a empresa precisou reestruturar sua rede de fornecedores no mercado internacional, e boa parte dela estava baseada na Rússia, país alvo de sanções econômicas impostas pela União Europeia com o conflito bélico.

Uma fonte lembra que a múlti ficou em uma “situação estratégica delicada” porque compra fosfatados e potássio de terceiros, enquanto a Mosaic Fertilizantes detém produção própria – fosfatados nos Estados Unidos e na Arábia Saudita, além de minas de potássio no Canadá.

Recuperação

Em 2023, essas indústrias terão de buscar recuperação em um mercado que possivelmente ainda não vai recuperar as perdas do ano passado. O dado oficial mais recente fornecido pela Anda, entidade que reúne as indústrias de fertilizantes que atuam no país, mostrou que os produtores agrícolas compraram 34 milhões de toneladas entre janeiro e outubro de 2022, ou 11,4% a menos do que no mesmo período do ano anterior.

Projeções de agentes de mercado apontam para uma queda de entregas de cerca de 10% em todo o ano passado. “A demanda do mercado interno foi projetada antes do início do conflito internacional, com base no cenário 2021, que foi positivo”, afirma Eduardo Monteiro, vice-presidente comercial da Mosaic Fertilizantes.

Com base nisso, as indústrias ampliaram suas importações no começo do ano passado para evitar desabastecimento, formando estoques. Monteiro comenta que, no decorrer de 2022, os custos aumentaram no campo, e as relações de troca para o produtor ficaram desfavoráveis.

As entregas no mercado interno em 2023, contudo, poderão avançar entre 3% e 8%, segundo projeções de consultorias e importadores ouvidos pelo Valor. Mosaic e Yara enxergam o ano com bons olhos, sobretudo pela redução dos preços de adubos.

“O cenário 2023 é otimista e com expectativa de demanda recorde, acompanhando a melhora do mercado doméstico e a recuperação nas importações”, prossegue o executivo da Mosaic.

Em nota, a diretoria da Yara afirma que, mantido o cenário atual – com redução no custo de fertilizantes e boa rentabilidade para a maior parte dos cultivos -, “2023 deverá ser um ano de retomada de crescimento do mercado de adubos”.

Marcelo Mello, diretor de fertilizantes da StoneX, acredita que o produtor agrícola vai recompor o que não colocou no solo no ano passado. “Mas ele vai comprar 5% ou 10% a mais, e não tudo o que reduziu em volumes”, diz. O executivo lembra que a “destruição de demanda” foi da ordem de 20% a 30% no caso dos grãos (uso de adubos na safra de verão 2022/23) -, o que resultou em recuo de 10% das entregas totais de fertilizantes no país.

Preços em queda

A queda dos preços de insumos está em marcha desde o segundo semestre de 2022. Mesmo que a receita com as commodities “ande de lado”, diz Fabio Silveira, sócio diretor da consultoria MacroSector, a rentabilidade do produtor deve ser maior em 2023. “Será um ano de transição”, diz, referindo-se às economias de modo geral.

“Os efeitos das altas taxas de juros devem passar apenas nos últimos meses, e o mundo vai crescer menos. Mas abre-se uma expectativa de crescimento econômico global, com um mercado agrícola um pouco mais benigno em 2024”, continua.

Com a colheita da safra verão 2022/23 em andamento e os preços de adubos recuando há meses, o produtor agrícola de Mato Grosso, Estado que lidera a produção de grãos no país, deve, a partir de agora, começar a acelerar as compras, pensando já na próxima safra (2023/24), acredita Cleiton Gauer, superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). “Só não é possível ainda projetar quantidades”, finaliza.

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