Coronavírus e alta do dólar assustam os lojistas


Fátima Fernandes em Varejo em Dia


O impacto da pandemia do novo coronavírus  faz lembrar a crise iniciada em 2007 no mercado imobiliário dos EUA, levando à quebradeira de empresas e bancos.
Treze anos depois, ainda se percebe os reflexos daquele momento e até mudanças de hábitos dos norte-americanos, mais preocupados com o orçamento.
Agora, com o Covid -19, a Itália está paralisada. Os EUA proibiram os voos da Europa, com exceção do Reino Unido.
E os países que não mexeram, pelo menos por enquanto, no direito de ir e vir dos cidadãos, sentem a cada dia os efeitos da pandemia.
Empresas dos mais variados setores estão fechando as portas e ou reduzindo a produção e as vendas no mundo.
“Essa crise que o mundo está vivendo está com a mesma pinta da crise do subprime que começou em 2007 nos Estados Unidos e que teve como momento “épico” a quebra do banco Lehman Brothers”, diz Fabio Silveira, sócio-diretor da MacroSector Consultores.
No Brasil, a expectativa é que a situação se agrave com a proximidade do inverno, quando o vírus se torna mais resistente.
Fala-se em cerca de 45 mil casos de pessoas infectadas com o Covid – 19 neste inverno no país.
Qual será o impacto do coronavírus na economia brasileira? Essa é a pergunta que os empresários têm feito todos os dias. E tudo indica que não deve ser pequeno.
Os preços das ações das empresas despencaram no mundo e por aqui. Há bancos brasileiros que projetam melhora ou recuperação do mercado de ações em um ano e meio.
“Ainda não existe um indicador do impacto do coronavírus sobre a economia mundial, mas é fato que vai ter”, afirma Silveira.
A restrição de circulação de pessoas, como está ocorrendo na Itália, e o impedimento de voos da Europa para os EUA, restringem a atividade econômica mundial, como dois exemplos.
“Na China, as exportações caíram 20%, um indicador do que pode acontecer no mundo”, diz Silveira.
A equipe da MacroSector reduziu de 2,2% para 1,8% o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro para este ano.
Esse número, de acordo com Silveira, pode ser revisto na medida em que os danos causados pela pandemia ficarem mais evidentes.
Os brasileiros, na avaliação de Silveira, já estão tendo uma postura mais restritiva nos gastos, como ele mesmo já observou ao circular por restaurantes.
Tito Bessa Jr., presidente da ABLOS, associação que reúne as lojas satélites de shoppings, diz que ainda não dá sentir o impacto do coronavírus nos negócios.
“Mas dá para dizer que está todo mundo muito assustado. A alta do dólar está preocupando até mais os lojistas do que o coronavírus”, diz ele.
A ABLOS reúne cerca de 90 marcas com aproximadamente 6 mil pontos de vendas e todas as empresas estão apreensivas.
“O que está acontecendo com o mercado de capitais preocupa mais e justamente num momento em que os bancos estavam voltando a liberar mais o crédito”, diz Bessa.
Para a ABLOS, as lojas satélites deverão faturar no primeiro trimestre deste ano, em média, o mesmo do que em igual período do ano passado.
Mas se os shoppings tomarem as mesmas medidas dos da Itália, que fecharam as portas, o estrago no setor será muito maior.
Atualmente, os países estão em fase de analisar a dimensão do problema sanitário para depois decidirem se vão ter ou não pacotes de expansão monetária e fiscal para salvar as economias.
“O grande medo é que os países entrem em recessão e aumente ainda mais o desemprego, a grande fragilidade do Brasil”, afirma Silveira.
Em 2008, diz ele, o Brasil crescia pelo menos 3% ao ano e tinha alguma gordura em relação ao lucro das empresas e pagamento de salários.
“As empresas tinham melhores condições econômica e financeira, assim como o governo. Em 2008 e 2009, o país tinha superávit primário. Hoje, déficit”, diz.
O governo brasileiro, diz ele, não tem armas para contra-atacar no sentido de salvar a economia. “Está com as mãos amarradas.”
“As empresas e o Estado estão mais vulneráveis do que em 2008. O grande enigma é saber a amplitude e a extensão desta crise.”
A queda do preço do petróleo já é um indicador de menos crescimento da economia global, diz Silveira. As empresas, portanto, diz, precisam se preparar para mais um ano de contração.