Cautela redobrada na compra de adubos para a safrinha

Levantamento trimestral da StoneX indica que os agricultores negociaram 32% das compras previstas para o primeiro semestre de 2023.

Érica Polo – Valor Econômico

Os produtores brasileiros de grãos reduziram o ritmo de compras de adubos em 2022, e neste momento a cautela é mais evidente nas negociações que visam a abastecer a despensa de insumos no primeiro semestre do ano que vem, tendo em vistas as safras de inverno. Em seu levantamento trimestral mais recente, de agosto, a StoneX indica que os agricultores negociaram até agora 32% das compras previstas para os seis primeiros meses de 2023. Um ano antes o percentual era de 39%.

O atraso é maior no Centro Oeste, principal região produtora de milho safrinha – cultivado no começo de cada ano -, onde 39% das negociações previstas para o primeiro semestre de 2023 foram concluídas. Em agosto de 2021, a pesquisa indicava 51%. “O produtor está receoso porque veio de uma imensa quebra de [milho] safrinha no ano passado, e a safra soja mais recente foi péssima”, disse Marcelo Mello, diretor de fertilizantes da StoneX.

Segundo ele, “o agricultor não está descapitalizado, mas está ‘esperto’”. Mello afirma que, antes de comprar insumos, o agricultor quer observar se o cultivo de soja não vai atrasar para poder “calcular com certeza” qual será a área plantada com o milho safrinha. Nem sempre, lembra o diretor da StoneX, o plantio de milho de milho ocorre em toda a área que foi cultivada com soja.

Preços altos

Os preços dos insumos são um fator que contribui para alimentar a cautela. Eles ainda estão em patamares mais altos do que em temporadas anteriores, apesar de acumularem queda desde o mês de abril. Os adubos nitrogenados, sobretudo a ureia, são mais importantes para as lavouras de milho do que para as de soja, e as tensões internacionais envolvendo a Rússia e as potências ocidentais trazem novo sinal de atenção para compradores do segmento.

Com a Rússia “pisando nos canos” que fornecem gás natural para a Europa – o gás natural é matéria-prima da amônia, que por sua vez é usada para fabricar os fertilizantes nitrogenados -, os europeus irão às compras no mercado global, impulsionando as cotações. A StoneX estima que o preço da tonelada de ureia nos portos no Brasil poderá sair dos atuais US$ 725 para US$ 800 até outubro. A partir de novembro, diz Mello, o mercado internacional deverá se acalmar com a saída de grandes compradores.

Mesmo que a Europa não tenha o maior potencial produtivo global em nitrogenados, lembra Fabio Silveira, sócio diretor da consultoria MacroSector, o cenário poderá trazer novo impacto para as relações de troca na produção de milho. “Havia expectativa de melhoria com a queda dos preços de adubos, mas pode haver piora no fim do ano”, diz.

O Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) projeta custo médio com macronutrientes (NPK) de R$ 1,8 mil por hectare no Estado na próxima temporada de milho, 63% mais alto que no ciclo anterior, quando os custos já haviam subido 62%. Segundo Cleiton Gauer, superintendente do Imea, o cálculo já reflete parte do encarecimento do gás natural. Ele não descarta que novas altas possam pressionar um pouco mais os custos de quem ainda não comprou insumos para a próxima safrinha do cereal.

O levantamento da StoneX indica, ainda, que as compras de adubos em todo o Brasil para o segundo semestre de 2022 também estão atrasadas, embora caminhem em ritmo melhor do que as negociações para o ano que vem. Os produtores negociaram 76% das compras, pouco abaixo do percentual da mesma época de 2021, quando estava em 80%.

Para o levantamento, a consultoria avaliou uma carteira de clientes que plantam diversas culturas em cerca de 28 milhões de hectares. A área é 7% maior do que a da pesquisa anterior.

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