ALTA DO DÓLAR REFLETE INSEGURANÇA DA ECONOMIA


 
Entrevista com Fábio Silveira para Agemt Puc-SP


As perspectivas para o dólar no Brasil não são animadoras. A combinação entre a instabilidade política e econômica e os fatores de insegurança no cenário internacional fazem com que a moeda americana continue em alta. “Em 2019, o dólar médio deverá subir 6,8% em comparação com 2018, atingindo a marca de R$ 3,90”, diz o economista e sócio-diretor da MacroSector Consultores, Fábio Silveira.
A alta do dólar no Brasil se deve a diversos fatores internos e externos que impactam a economia de maneira geral. Internamente, o cenário político e econômico está passando por uma fase muito complexa com as dúvidas em relação à aprovação da reforma da Previdência, considerada fundamental para o equilíbrio das contas públicas. Como explica Silveira, “temos um quadro fiscal grave no país, porque as receitas públicas não estão sendo suficientes para fazer face às despesas públicas, o que gera muita tensão, porque implica mais adiante o temor de que a União e os estados não sejam capazes de honrar seus compromissos no médio e longo prazo, gerando uma tensão no ambiente internacional junto aos financiadores do Estado brasileiro”.
O Relatório Focus divulgado pelo Banco Central na segunda-feira 6 de maio mostra uma redução na projeção do crescimento econômico. A estimativa para o PIB caiu de 1,70% para 1,49% este ano. E, para 2020, a projeção permaneceu estável em 2,50%. A previsão para cotação do dólar é de R$ 3,75 este ano e R$ 3,80 para o ano que vem.
No cenário internacional, a desaceleração da economia americana gera incertezas. Esse tipo de dúvida faz com que os investidores internacionais busquem segurança no dólar, diminuindo o investimento em ativos arriscados e redirecionando os fluxos de capitais. Com isso, as economias emergentes experimentam uma saída de capital líquido. Outro fator é a possível queda dos juros americanos, como explica Silveira. “Quando os juros caem, a remuneração em cima dos títulos públicos diminui, isso gera dúvida entre os investidores internacionais, e nesses casos eles correm para o dólar atrás de liquidez.”
O “World Economic Outlook”, relatório do FMI (Fundo Monetário Internacional) que retrata a economia mundial no contexto de curto e médio prazo, divulgado em abril de 2019 , indica que o crescimento global ficou mais fraco. O relatório prevê que o crescimento global diminua de 3,6% em 2018 para 3,3% em 2019, antes de retornar a 3,6% em 2020. Parte desse efeito negativo se deve à guerra comercial entre a China e os Estados Unidos, que teve início em 2018.

Gráfico do valor do dólar em real (outubro de 2018 até março de 2019)

Apesar de a reforma da Previdência ser considerada importante para o ajuste das contas públicas do país, ela não é suficiente para solucionar a questão econômica e atrair investimentos. De acordo com Silveira, a reforma é necessária, pois quem pensa em colocar dinheiro no país quer saber como estarão as contas públicas no horizonte de dois a quatro anos. “Se houver a reforma da Previdência e se tiver uma boa aceitação por parte da opinião pública, isso vai melhorar o humor do resto do mundo e do investidor brasileiro em relação ao futuro das contas públicas”, diz.
No entanto, segundo Silveira, o fato de ter contas públicas ajustadas não necessariamente atrai investidores internacionais. Por mais que a competitividade do Brasil melhore, é preciso que o mercado doméstico mostre que é capaz de crescer ou que tem potencial de crescimento em seus vários segmentos como agricultura, serviços e indústria. “É um pouco fantasiosa a ideia de que, aprovando a reforma, as contas públicas estarão em ordem e o pessoal vai despejar recursos automaticamente no país. Não é assim que a banda toca”, completa o economista.
Para Silveira, a economia deve crescer pouco este ano, entre 1,5% e 1,8%. Além dos baixos investimentos nos últimos três anos, houve também uma queda expressiva na arrecadação, no nível de atividade, na indústria, no serviço e no varejo. Ele explica que um país só cresce quando se tem firmeza nos investimentos ocorridos no passado e uma boa dose de otimismo em relação aos investimentos que vão ocorrer nos próximos anos.
“Por mais que a gente queira ter uma visão otimista, as coisas não se resolvem facilmente. Então tem que ter muita cautela em relação ao que vem pela frente,o país precisaria crescer pelo menos 3% para gerar uma situação de maior otimismo, de melhora de investimentos, da confiança dos consumidores e empresários. Ainda estamos distantes disso, infelizmente”, completa Silveira.
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